LIVE NIRVANA INTERVIEW ARCHIVE January 15, 1993 - São Paulo, BR
Personnel
- Interviewer(s)
- Thaís Oyana
- Interviewee(s)
- Kurt Cobain
- Dave Grohl
Sources
Publisher | Title | Transcript |
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Folha De São Paulo | Cobain diz estar cheio de suprir carências | Yes (Português) |
Transcript
Kurt Cobain, 25, está cansado da vida de pop star. Pelo menos é o que diz. Ontem, o vocalista e guitarrista do Nirvana, cujo Nevermind vendeu no ano passado mais de três milhões de cópias, ziguezagueava sorumbático pelos corredores do Maksoud Plaza. Descalço e de óculos escuros, ele falou à Folha e reclamou das agruras do sucesso.
“Estou de saco cheio dessa coisa toda”, resmungou. Cobain havia acabado de interromper uma mousse de chocolate comprada no restaurante do hotel por causa da chegada de fãs e fotógrafos. “Escolhi estar no rock ‘n’ roll, não devotar 24 horas da minha vida à carência de pessoas”, disse.
O vocalista rasteja, não caminha. Ombros curvados, olho no chão, ele reclama do hotel, reclama do calor, reclama da imprensa. “Não tem onde fazer compras aqui, está “fucking hot”, ninguém me deixa em paz”, choraminga.
As lamentações continuam, Kurt Cobain chegou a dizer que pretende mudar de profissão. “Não entendo essa gente querendo me pegar, me olhar, me assistir o tempo todo. Eu não me importo, mas estou de saco cheio. Estou cansado. Vou mudar de profissão, não vou aguentar isso a minha vida inteira”.
Não há motivo para pânico. Cobain só está fazendo charme. Com ar contrito, ele revela que vai se tornar quando abandonar o show business: “Serei lixeiro, um feliz e saudável lixeiro”.
O gênero, “pobres-astros-em-crise” pegou no Nirvana. O baterista do grupo, David Grohl, também apareceu com discurso parecido. Falando à Folha do seu quarto no Maksoud, o baterista afirmou que se sente “desconfortável” com o assédio dos fãs.
“A gente viaja mas não consegue dar uma banda pela cidade. Vai comer e as crianças ficam atrás de você no lobby. Sobe para o quarto e elas batem na sua porta. Na argentina foi terrível. Se não tivesse segurança no aeroporto, eles pulariam nos nossos pescoços. É muito estranho tudo isso. Eu não entendo”.
Segundo o baterista, tanto estranhamento é fruto da origem do grupo. “Nós não somos uma banda de arena. Nunca tínhamos tocado em grandes estádios. A gente não é dessa escola”, explica.
Grohl negou que o grupo tenha pedido um psicólogo para acompanhá-lo na turnê pelo Brasil. “Vocês da imprensa são foda” (rindo). “Escrevem o que querem, é essa mentalidade de tabloide que existe na América. Sei lá, escreve i que você quiser, escreve aí que eu pedi quatro psicólogos”, disse, divertindo-se.
© Thaís Oyana, 1993