LIVE NIRVANA INTERVIEW ARCHIVE January ??, 1993 - Los Angeles, CA, US

Interviewer(s)
Tom Leão
Interviewee(s)
Dave Grohl
Publisher Title Transcript
O Globo Nirvana dispensa o psicólogo Yes (Português)

Não vai haver psicólogo nenhum no camarim do Nirvana e nem a banda vai para Bahamas entre um show e outro. Foi o que afirmou o baterista da banda, Dave Grohl, em entrevista por telefone ao Globo de Los Angeles. O grupo, que se apresenta neste sábado em São Paulo e no sábado seguinte no Rio, dentro do Hollywood Rock Festival, vai ficar aqui mesmo.

Sem morar em Seattle e sequer ser amigo de Kurdt Cobain (vocais e guitarra) e Chris Novoselic (baixo), Dave Grohl foi chamado para integrar o Nirvana as vésperas do grupo gravar o disco “Nevermind”, o responsável pelo estouro mundial da banda. Excelente nas baquetas, Grohl mostra que suas qualidades falaram mais alto.

O Globo: Você se acha um cara de sorte por ter entrado no Nirvana na hora certa?

Dave Grohl: Não necessariamente. Não sabia que tudo isso ia acontecer. Eu queria apenas tocar bateria.

O Globo: Kurt Cobain costuma elogiar muito Eugene Kelly, dos Eugenius, como um dos melhores compositores que ele conhece. Há planos de Eugene compor músicas para o próximo disco do Nirvana?

Grohl: Não sei. Ele tem sua própria banda para cuidar. Nada foi falado sobre isso ainda.

O Globo: Chris Novoselic disse que o próximo disco do Nirvana vai ser mais “cru”. O que isso significa?

Grohl: Acho que isso significa algo entre “Bleach” (o primeiro disco do Nirvana), que foi gravado em seis dias: e “Nevermind”, gravado em um mês. Planejamos gravar o próximo disco em duas semanas. Ele será o mais simples possível.

O Globo: Convidado por vocês para ser o produtor do novo disco, Steve Albini, recusou a proposta dizendo que só produz quem gosta. Mas parece que ele voltou atrás por dinheiro. Qual a verdade?

Grohl: Nós falamos com ele e com vários outros produtores e até agora não está nada decidido. O que sabemos é que gostamos de trabalhar com produtores diferentes para não cairmos numa fórmula.

O Globo: Foi divulgado que vocês requisitaram um psicólogo para ficar nos bastidores durante o show ...

Grohl: Eu não sei nada sobre isso. É insano. A imprensa acredita em qualquer coisa que dizem. Se isso é para fazer nossos fãs acharem que somos insanos, pelo menos é engraçado.

O Globo: Também foi divulgado que entre um show e outro no Brasil vocês vão para as Bahamas. Por que não descansam por aqui mesmo?

Grohl: Nós não vamos para as Bahamas. Vamos ficar no Brasil durante e talvez até depois dos shows. Vamos procurar um lugar tranquilo para ensaiar um pouco as músicas novas.

O Globo: Por que o recente show na Argentina foi ruim?

Grohl: A plateia recebeu muito mal a banda Calamity Jane, que tocou antes de nós, talvez porque era desconhecida e formada por mulheres. A plateia continuou hostil quando entramos, então nós resolvemos responder da mesma forma.

O Globo: E essa recusa em tocar os sucessos nos shows?

Grohl: Nós tocamos o que gostamos. Não gostamos de ser os bonecos da plateia que exigem que toquemos isso ou aquilo. Gostamos de fazer uma “crazy freak-out jam” como acontecia nos anos 60, quando o público ia ver a banda e não as músicas.

O Globo: Então os shows no Brasil vão ser assim?

Não sabemos de nada até subirmos no palco. Se estivermos a fim de tocar músicas de “Nevermind” nós as tocaremos. Sem sermos obrigados.

© Tom Leão, 1993