LIVE NIRVANA INTERVIEW ARCHIVE January 20, 1993 - Rio de Janeiro, BR
Personnel
- Interviewer(s)
- Marcel Plasse
- Interviewee(s)
- Dave Grohl
- Krist Novoselic
Sources
Publisher | Title | Transcript |
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O Estado de São Paulo | Conversa Doida Com Nirvana | Yes (Português) |
Transcript
O baterista Dave Grohl apareceu com uma camiseta do Gash, o projeto de baladas do Pin Ups, e um boné do sepultura, no lobby do hotel Intercontinental. Uma das atitudes mais famosas do Nirvana é usar o próprio corpo como meio de divulgação de bandas alternativas, e Dave já está simpatizando com as bandas locais. O baixista Chris Novoselic não fazia propaganda de nada. "Não escuto tantas coisas novas quanto gostaria", ele confessa. "Sou um junkie político. Prefiro assistir à CNN e ler muitos jornais e revistas."
Chris confirma sua ida à Croácia após o Hollywood Rock. Ele está preocupado com a situação do país em que nasceu, mas vai voltar aos Estados Unidos a tempo para participar das gravações do novo álbum. "Só vou ficar na Croácia por uma semana e não vamos gravar antes da metade de fevereiro", ele diz. Mas não esperem nenhuma música sobre a croácia no disco do Nirvana. O álbum vai mesmo se chamar I Hate Myself, I Wanna Die e será conceitual, com referências a Andy Warhol, segundo o baixista.
Eles estão gravando demos no Rio. "Só bagunçando para ver no que dá", diz Chris. "Só estamos gravando para ver como as canções soam. Não vamos aproveitar essas sessões em disco." As duas músicas novas apresentadas em São Paulo tinham sido compostas há poucas semanas. Mas ambos estão animados com o material. "As novas canções são insanas", define Dave.
Os dois querem saber como foram as críticas sobre o show de São Paulo. Chris abre um grande sorriso de criança ao ser informado que a maioria foi positiva e da a sua própria interpretação: "Você podia ver como se fosse uma atitude relaxada ou uma atitude de rock 'n' roll. Dependendo de como você olhou, pode ter visto como um show brilhante ou péssimo". Segundo ele, a banda tocou todas as músicas que o público quis ouvir. "Depois, resolvemos nos divertir." Garante que não brigou com o guitarrista Kurtdt Cobain durante a "diversão". "As guitarras estavam desafinadas. Joguei meu baixo no amplificador de forma emocional. As pessoas podem ter entendido mal o motivo que me deixou louco."
Dave, de repente, lembra da psiquiatra que a banda teria requisitado para acompanhar sua passagem pelo Brasil. "Não apareceu nenhum. E eu cheguei a ouvir que seriam quatro", ele ri. "Eu não tenho confiança em psicanalistas", revela Chris, e começa uma divertida imitação: "Sabe, todos temos inseguranças. Está tudo na sua cabeça. Então, me fale da sua mãe..." Com o corpo cheio de tatuagens tribais, Dave aponta para um quadradinho negro no seu braço e diz: "Essa fui eu que fiz. É minha alma. Negra".
A conversa maluca chega no gibi dos Ratos de Porão, que os dois ganharam de João Gordo. "Os quadrinhos são doentios", ri Chris, fazendo uma careta de nojo. Dave, ainda está atrás de um tradutor para as histórias. Ele tem passado os dias no Rio ouvindo rádio e vendo TV. Diz que assistiu um programa doido na TV, que parecia um "talk show de crianças" com uma banda tocando trechos de músicas. "As pessoas eram insanas na banda. Tocaram Pearl Jam e Janis Joplin. Hilário. "Era o Programa Livre. Achou o rádio igualmente "hilário". "Ouvi uma música que parecia More Than Words, mas era diferente, em português. Horrível." Aparentemente era Engenheiros do Hawai, que, por ironia, abre para o Nirvana no Hollywod Rock. Chris quis saber se Extreme já tinha tocado no Brasil por causa do plágio.
Nirvana não está fazendo planos para o show no Rio. "Foi assim em São Paulo, espontâneo", diz Chris. De todo modo, a banda sempre viaja com dois carregamentos de amplificadores, no caso do primeiro ir para o lixo. Mas não devem repetir a performance paulista. "Aquele show foi único", assume o baixista.
© Marcel Plasse, 1993