LIVE NIRVANA INTERVIEW ARCHIVE January 24, 1993 - Rio de Janeiro, BR

Interviewer(s)
Marcel Plasse
Interviewee(s)
Dave Grohl
Publisher Title Transcript
O Estado de São Paulo Baterista do Nirvana Elogia Grunge Brasileiro Yes (Português)

Ao comentar bandas do undreground nacional para Radical, Dave Grohl ficou impressionado e lamentou não ter tocado com Second Come, Pin Ups e Killing Chainsaw no Hollywood Rock

Ele ouviu discos, leu as letras e vestiu a camiseta Dave Grohl não foi o primeiro gringo a ficar de boca aberta com o undreground brasileiro. Everett True, lendário crítico do Melody Maker, e Steve Lamaq, do New Musical Express, publicações inglesas de música, também ficaram pasmos. Mas a imprensa tapuia continua a não acreditar no milagre dos santos da casa.

Ligado num walkman, a primeira pergunta de Dave é sobre os vocais.

Dave: “São todos em inglês?”

A revista Bizz, recentemente, colocou Gash e Killing Chainsaw no paredão, fuzilando o sotaque dos vocalistas e influências modernosas.

Dave: “Gash é cool. Li as letras no avião, entre São Paulo e Rio. São espertas, o que é estranho, porque como pessoas que falam português conseguem entender o humor e as sacanagens da língua inglesa?”

Após ouvir todas as músicas, Dave tem um veredito.

Dave: “O inglês dessas bandas é melhor do que o dos rappers americanos. As pessoas deviam prestar mais atenção na música.”

Conforme escuta as canções, quer saber sobre a cena.

Dave: “Onde tocam? As rádios divulgam?”

Chega a cantarolar Ten Fingers, do Second Come.

Dave: “Essas bandas poderiam tocar na América. Se tivessem distribuição e a chance.”

Explica que as college radios foram responsáveis pelo estouro de Sonic Youth, Pixies e mesmo Nirvana.

Dave: “Antes, as rádios só tocavam música de medalhões, mesmo que fosse ruim. Agora, mesmo sendo uma banda pequena, se sua música é boa vai tocar na rádio.”

Tenta avaliar o que está ouvindo.

Dave: “É estranho, porque as pessoas na América tem a impressão de que aqui só se toca batucada. Ninguém sabe sobre esse underground.”

Dfine Run, Run, do Second Come, como uma:

Dave: “ótima melodia pop. Se não soubesse que são brasileiros, acharia que vem de Detroit ou Minneapolis.”

Compara a banda carioca a Screaming Trees e Pixies. Ao ver o título Justify My Love na relação de músicas, acelera a fita para ouvir o que Second Come fez com Madonna.

Dave: “Excelente! É uma ótima cover. Hehehe, é tão cool! Qualquer banda que consegue tocar Justify My Love merece um 10.”

Assusta-se com Killing Chainsaw.

Dave: “Deus, isso realmente parece Sonic Youth!”

Quer saber se Killing já viu Sonic Youth ao vivo.Não

Dave: “Eu me arrepio ao ver. A gente tenta fazer esse barulho e não consegue.”

No mesmo fôlego emenda:

Dave: Você já mandou uma cópia disso para Sonic Youth? Eu vou tocar para eles!”

Continua incrédulo:

Dave: "Deus, eles não tem uma menina no baixo, tem? Brincadeirinha. É cool. Soam como se existisse boa marijuana no Brasil.”

Dave se mostra um fã de baladas ao ouvir Gash. Elogia o cover de A Day in the Life.

Dave: “As pessoas fazem covers dos Beatles, mas nunca ouvi ninguém tocar essa canção. Cool.”

Não entende porque Gash não toca nas rádios. Ouve Kill Myself, do primeiro disco dos Pin Ups.

Dave: “Impressionante. Lembra os Stooges.”

Ouve as bases gravadas, ainda sem vocal, do próximo disco da banda e volta a repetir sua avaliação:

Dave: “Essas guitarras são impressionantes.”

Sorri demais durante a demo do Mickey Junkies.

Dave: “Tem influência de punk antigo. É cool. Polegar para cima.”

Passa batido por Oz, de brasília, e Vima Lisi, de Belo Horizonte. E então resolve fazer o balanço geral.

Dave: “Second Come é o meu favorito, faz muitas canções boas. Seria popular em qualquer lugar do mundo. Killing Chainsaw deveria soar menos como Sonic Youth, embora faça um bom inferno com suas guitarras. Gash é ótimo. A voz de Alê é linda e as letra, brilhantes. Adoro baladas dsesperadas. Kill Myself do Pin Ups, é a minha música favorita. Mickey Junkies também é demais, gosto do punk rock.”

O baterista do Nirvana admite surpresa e excitação com o material.

Dave: “Não sabia o que esperar. É bom saber que aqui há bandas fazendo esse tipo de música. Adoraria ter tocado com Second Come, Pin Ups e Killing Chainsaw no festival em vez das outras bandas.”

© Marcel Plasse, 1993