LIVE NIRVANA INTERVIEW ARCHIVE October 30, 1992 - Buenos Aires, AR
Personnel
- Interviewer(s)
- Pedro Só
- Interviewee(s)
- Dave Grohl
Sources
Publisher | Title | Transcript |
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Jornal Do Brasil | Baterista do Nirvana fala sobre o sucesso e a vinda ao Brasil | Yes (Português) |
Transcript
Buenos Aires – O Nirvana parece ser mesmo um grupo entediado com a rotina de shows, viagens, entrevistas e demais compromissos que o sucesso traz a reboque. Seu show na Argentina, sábado passado, foi considerado tão frio quanto o minuano que soprava sexta à noite no Estádio do Velez Sarsfield. Não por culpa do trio americano: o público é que simplesmente não reagiu, talvez por não conhecer o repertório. Na Argentina, o pessoal do underground já está torcendo o nariz para a alta projeção que Kurt, Novoselic e Grohl conseguiram nas paradas internacionais. E o mainstream certamente os considera barulhentos e esquisitos demais. A turma não reagiu nem quando Kurt fez graça e perguntou se alguém ali queria tango. De qualquer forma, quando o baterista Dave Grohl falou ao JORNAL DO BRASIL, demonstrou enfado e foi evasivo sempre que se falava nas direções que a banda irá tomar. Sequer se preocupou em demonstrar entusiasmo ao comentar sobre suas expectativas para as apresentações que fará no Brasil em janeiro, durante o Hollywood Rock: “Serão mais dois shows. Vai ser interessante conhecer o país, do qual sinceramente não sei quase nada. Não tenho expectativas.”
Ele negou que o sucesso tivesse mudado o grupo. “Continuamos os mesmos caras de sempre. Certo que as responsabilidades são maiores, mas agimos como se não fosse assim”, disse. Os rumores de que, depois de muito tempo excursionando, as relações entre os integrantes tivessem coalhado, também foram postos de lado. “Estamos ótimos, não há a menor tensão entre nós três. É claro que cada um tem seus interesses fora do grupo, mas presumo que isto seja normal entre todos os seres humanos. Não somos casados uns com os outros”, observou rindo. Seu único temor com relação ao gigantismo que a percussão de tudo que o Nirvana fez até agora é o de que as coisas fujam ao controle do grupo. “Não queremos virar circo e ser exibidos como palhações ou freaks. A história de quebrar instrumentos, por exemplo, acabou nos cansando um pouco. Todo mundo espera que façamos alguma coisa selvagem no final dos shows. Mas a gente destrói as coisas quando está a fim.”
Sobre o novo disco que está gravando com seus companheiros. Grohl prefere fazer mistério: “Não posso dizer muito. Uma coisa que todos podem ficar certos é que não será um novo Nevermind.” O sucesso do segundo álbum do grupo é algo que ele não sabe explicar. “Não sei o que fez com que as pessoas gostassem tanto. Foi muito estranho para nós. Durante a excursão que fizemos pelos Estados Unidos, todo mundo enlouquecia, a MTV tocava o vídeo à exaustão. Mas só fomos reparar o ponto a que tínhamos chegado quando voltamos para casa.” A atitude do Nirvana contraria o profissionalismo de qualquer um que tenha chegado à sua posição: é como se eles estivessem pouco ligando para tudo.
© Pedro Só, 1992